sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Definição de preservação digital




Por objecto "digital" pode entender-se essencialmente duas coisas: por um lado, aquele objecto originalmente criado no meio informático, que se serve de um suporte digital, e cuja riqueza só se concretiza efectivamente quando manuseado nesse mesmo meio; por outro lado, o objecto enquanto representação digitalizada de um outro, qualquer que seja a sua natureza.
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Segundo a carta sobre a preservação do património digital, elaborada pela UNESCO em 2003, os objectos digitais podem ser "textos, bases de dados, imagens estáticas e com movimento, áudio, gráficos, software, e páginas Web, entre uma ampla e crescente variedade de formatos. Eles geralmente são passageiros e requerem produção, manutenção e gestão intencional para serem preservados. Muitos desses materiais são de valor e significado duradouro, e por isso constituem um património que deve de ser protegido e preservado para as gerações actuais e futuras. Este património existe em qualquer língua, parte do mundo, e em qualquer área do conhecimento humano".[1]
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Os objectos digitais e os suportes magnéticos e ópticos que suportam a informação devem possuir um nível de funcionalidade de exibição que permita a sua reprodução a qualquer momento. Cada suporte pode armazenar uma sequência de bits e bytes de forma diferente, segundo as propriedades físicas do tipo de suporte dos objectos digitais. A sequência de zeros e uns que compreende o objecto digital precisa então de ser interpretada, já que toda a sequência significativa de bits e bytes pode representar qualquer coisa. Os objectos digitais são salvos como colecções de bits representando documentos específicos, significativos apenas, para os programas que lhe deram origem.
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As questões inerentes à preservação digital, não se restringem somente à selecção do que deve de ser preservado. Esta problemática envolve uma panóplia alargada de elementos, de onde emergem “o como preservar, a responsabilidade pela preservação, os custos envolvidos e quem deve pagar, autorizações de acesso e estratégias para assegurar eficiência em todo o ciclo de vida do recurso digital”.[2]
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A preservação digital assenta em duas condições básicas que passam pela adopção de métodos e tecnologias que integram a preservação física, lógica e intelectual dos objectos digitais. A preservação lógica procura na tecnologia formatos actualizados para a introdução dos dados (material audiovisual, correio electrónico, etc.) e novas aplicações de hardware e software que mantenham em actividade os seus bits, para conservar a sua capacidade de leitura. A preservação física está focalizada nos conteúdos armazenados em suportes magnéticos (cassetes VHS, cassetes de música, etc.) e nos suportes ópticos (CD-ROM's, discos WORM, etc.).
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Quadro 1: Relevância dos requisitos de preservação dos documentos impressos e digitais
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Como se pode constatar, a preservação intelectual centra-se nos mecanismos que garantem a integridade e autenticidade da informação dos documentos digitais. A preservação física continua a ser relevante nos dois estados apresentados, embora, o armazenamento de objectos digitais seja mais delicado, envolvendo algumas estratégias para a sua preservação como a migração, encapsulação, emulação, etc. Nos documentos impressos, a preservação lógica é pouco relevante, dado que se pode ter acesso ao formato em que estes foram publicados. No caso dos objectos digitais, a preservação lógica está associada à necessidade de garantir a conversão de formatos que estejam a ficar obsoletos ou cuja manutenção seja dispendiosa. A preservação intelectual dos objectos digitais também é muito relevante para salvaguardar as modificações no seu desenho, apresentação ou interacção no formato apresentado originalmente.

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A preservação digital levanta desafios de uma natureza fundamentalmente diferente se comparados com a preservação dos formatos tradicionais. Pela preservação digital, “entende-se o planeamento, armazenamento do recurso, e a aplicação de métodos e das tecnologias de preservação necessárias para assegurar que a informação digital tenha um valor contínuo, remanescente, acessível e usável”.

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Ao definirmos os objectos digitais dentro das suas delimitações específicas, devemos ter sempre em atenção, a investigação que está a ocorrer continuamente na exploração das hipóteses, aduzindo-se normas e métodos para os armazenar e partilhar de forma adequada, assim como, à formulação de políticas institucionais de preservação digital.

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Esta asseveração de objecto digital não é absoluta nem suprema, é apenas uma achega, tanto mais, que esta, carece de reformulações constantes à medida que o seu contexto de produção e preservação se vai refractando com a própria evolução da sociedade da informação.

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Será possível preservar toda a informação digital produzida pelo homem? Eis a questão...

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[1] UNESCO - Carta sobre a Preservação do Património Digital. [em linha]. Brasília : [s.n.], 2003. [Consulta: 19 de Dezembro de 2004].

[2] CAMPOS, Fernanda Maria – Informação digital: um novo património a preservar. Cadernos BAD, 2002, nº 2, p. 9

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